FTA – Fault Tree Analysis
“FTA” – Análise de Árvore de Falhas. É uma metodologia sistemática e dedutiva utilizada para identificar a causa raiz de falhas em sistemas complexos.
A “FTA” utiliza um diagrama em forma de árvore para decompor a causa de uma falha nos seus fatores contribuintes.
A Análise de Árvore de Falhas “FTA” foi desenvolvida pela primeira vez na década de 1960 pela Bell Telephone Laboratories.
A metodologia foi criada para a Força Aérea dos EUA como parte de um projeto de segurança para o sistema de mísseis balísticos intercontinentais “Minuteman”.
FTA – Âmbito
- A Análise de Árvore de Falhas FTA é aplicada em diversos âmbitos para melhorar a segurança e a confiabilidade de sistemas complexos.
- Aeroespacial: utilizada para garantir a segurança de aeronaves e sistemas espaciais, identificando possíveis falhas que poderiam levar a acidentes.
- Energia Nuclear: empregada para avaliar a segurança de reatores nucleares e prevenir acidentes catastróficos.
- Indústria Automóvel: usada para analisar falhas em componentes críticos de veículos, como sistemas de travões e airbags.
- Indústria Química: aplicada para identificar riscos em processos químicos e prevenir fugas ou explosões.
- Tecnologia da Informação: utilizada para avaliar a confiabilidade de sistemas de TI e prevenir falhas que poderiam causar perdas por dados ou interrupções de serviço.
- A FTA é uma ferramenta versátil que pode ser adaptada a praticamente qualquer setor onde a segurança e a confiabilidade são críticas.
FTA – Estrutura
- A estrutura da Análise de Árvore de Falhas FTA é composta por vários elementos que ajudam a identificar e analisar as causas de falhas em sistemas complexos.
- Evento Topo: este é o evento de falha principal que se deseja evitar. É o ponto de partida da análise.
- Portas Lógicas: utilizadas para combinar eventos de falha. As portas mais comuns são:
- Porta E (AND): indica que todos os eventos de entrada devem ocorrer para que o evento de saída ocorra.
- Porta OU (OR): indica que qualquer um dos eventos de entrada pode causar o evento de saída.
- Eventos Básicos: são as causas primárias de falha que não podem ser decompostas em eventos menores.
- Eventos Intermediários: resultam da combinação de eventos básicos e/ou outros eventos intermediários através de portas lógicas.
- Eventos Condicionais: representam condições que podem influenciar a ocorrência de eventos de falha.
- Símbolos de Transferência: utilizados para ligar diferentes partes da árvore de falhas, facilitando a leitura e a organização do diagrama.
- A FTA utiliza uma abordagem dedutiva, partindo do evento topo e decompondo-o nas suas causas subjacentes através de uma série de eventos intermediários e básicos.
FTA – Ferramentas
- A Análise de Árvore de Falhas utiliza diversas ferramentas e técnicas para identificar e analisar as causas de falhas em sistemas complexos:
- Diagramas de Árvore de Falhas: representações gráficas que mostram a relação entre os eventos e as suas causas. Estes diagramas ajudam a visualizar e a compreender as possíveis falhas e as suas origens.
- Software de FTA: existem várias ferramentas de software que facilitam a criação e análise de diagramas de árvore de falhas. Estes programas ajudam a automatizar o processo de análise e a calcular probabilidades de falhas.
- Análise de Causa Raiz (RCA)): métodos como o 5W2H e o Diagrama de Ishikawa são frequentemente utilizados em conjunto com a FTA para aprofundar a investigação das causas raízes.
- Dados Históricos e Estatísticos: a análise de dados históricos de avarias e a aplicação de métodos estatísticos ajudam a identificar padrões e tendências que podem ser críticos para a análise de avarias.
- Simulações e Modelação: as ferramentas de simulação, como o Monte Carlo, são utilizadas para modelar diferentes cenários de falhas e avaliar a probabilidade de ocorrência de eventos indesejados.
FTA – Desafios
- Análise de Árvore de Falhas enfrenta vários desafios que podem ter impacto na eficácia e precisão da análise:
- Complexidade do Sistema: os sistemas complexos podem ter muitas interações e dependências entre componentes, tornando difícil a construção e análise da árvore de falhas. A complexidade pode levar a erros ou omissões na modelação.
- Dados Insuficientes ou Incompletos: a falta de dados históricos de avarias ou de dados incompletos pode dificultar a estimativa precisa das taxas de avaria e a determinação das distribuições de probabilidade adequadas.
- Subjetividade na Construção da Árvore: a construção da árvore de falhas pode ser subjetiva, dependendo do conhecimento e da experiência dos analistas. Diferentes analistas podem construir árvores diferentes para o mesmo sistema, levando a resultados variados.
- Manutenção e Atualização: manter e atualizar a árvore de falhas à medida que o sistema evolui ou novos dados se tornam disponíveis pode ser desafiante. Isto é especialmente verdade para os sistemas que sofrem modificações frequentes.
- Interpretação dos Resultados: a interpretação dos resultados da FTA pode ser complexa, especialmente para aqueles sem formação técnica. É importante comunicar os resultados de forma clara e compreensível a todas as partes interessadas.
- Integração com Outras Técnicas: A integração da FTA com outras técnicas de análise de risco, como a FMEA (Análise de Modo e Efeito de Falha) ou a HRA (Análise de Fiabilidade Humana), pode ser desafiante, mas é necessária para uma avaliação abrangente dos riscos.
FTA – Superar desafios
- Formação e Capacitação: investir em formação contínua para os analistas pode ajudar a reduzir a subjetividade e melhorar a precisão da construção da árvore de falhas.
- Utilização de Software Especializado: as ferramentas de software podem automatizar partes do processo de FTA, facilitando a construção, análise e atualização das árvores de falhas.
- Recolha e Gestão de Dados: a implementação de sistemas de recolha e gestão de dados robustos pode ajudar a garantir que dados completos e precisos sejam disponibilizados para a análise.
- Comunicação Eficaz: desenvolver competências de comunicação para apresentar os resultados da FTA de forma clara e compreensível para todas as partes interessadas.
FTA – Exemplo
- Analisemos como pode ser desenvolvida uma FTA – Fault Tree Analysis a partir da constatação de falha no sistema hidráulico de um torno automático
Falha de Topo: “Falha do Sistema Hidráulico do Torno Automático”
- Nível 1 (Principais Causas):
- Falha na Bomba Hidráulica
- Desgaste mecânico dos componentes da bomba
- Falha no motor da bomba
- Insuficiência de lubrificação interna
- Perda de Fluído Hidráulico
- Fuga em o-rings ou juntas
- Danos nas tubulações ou mangueiras
- Falha nas válvulas de retenção
- Obstrução nos Circuitos Hidráulicos
- Acumulação de detritos ou partículas
- Deformação nas tubagens que limita o fluxo
- Obstrução nas válvulas de controlo de fluxo
- Contaminação do Fluído Hidráulico
- Nível 2 (Causas de 2ª ordem)
- Introdução de partículas ou sedimentos externos
- Deterioração do fluído por temperatura excessiva
- Nível 3 (Causas de 3ª ordem)
- Problemas no Sistema de Arrefecimento
- Nível 4 (Causas de 4ª ordem)
- Falha na ventoinha ou no ventilador de arrefecimento
- Nível 5 (Causas de 5ª ordem)
- Desgaste dos rolamentos do ventilador, o que reduz a rotação.
- Mau contacto elétrico no motor da ventoinha, causando falhas intermitentes.
- Quebra da correia de transmissão (caso a ventoinha seja acionada mecanicamente).
- Obstrução no radiador ou trocador de calor
- Acumulação de detritos ou partículas nas aletas do radiador devido à sujidade do ambiente de trabalho.
- Bloqueio causado por óleo ou resíduos aderentes no radiador.
- Deficiente limpeza periódica, permitindo acumulação excessiva de sujidade.
- Deficiência no termóstato que controla a temperatura do fluído
- Termóstato preso numa posição aberta ou fechada, desregulando o fluxo de arrefecimento.
- Deficiência de calibração do termóstato que leva a leituras incorretas.
- Falha elétrica ou mecânica que impede o funcionamento correto do termóstato.
- Sobrecarga do Sistema Hidráulico
- Ciclo de operação prolongado sem pausas para arrefecimento
- Programação incorreta de operações consecutivas sem intervalos.
- Excesso de produção ou operação contínua que ultrapassa os limites do torno.
- Falta de supervisão e planeamento de pausas regulares para arrefecimento.
- Pressão excessiva de trabalho devido a erros de calibração
- Calibração incorreta das válvulas de pressão, que ficam acima do valor de operação recomendado.
- Deficiente afinação dos reguladores de pressão.
- Manipulação inadequada dos parâmetros de pressão por pessoal não qualificado.
- Atuadores hidráulicos com resistência excessiva (ex.: desgaste ou obstruções)
- Desgaste nas guias dos atuadores, aumentando a resistência.
- Obstrução interna nos cilindros por depósitos ou partículas.
- Deficiências de lubrificação nos êmbolos, que aumenta o atrito e o esforço.
- Utilização de Fluído Inadequado
- Fluído com viscosidade inadequada para a operação (ex.: viscosidade demasiado baixa que leva ao aquecimento)
- Escolha incorreta do tipo de fluído por falta de consulta das especificações do equipamento.
- Variações de temperatura ambiente que afetam a viscosidade (por exemplo, fluído com viscosidade baixa a altas temperaturas).
- Alteração da viscosidade devido a diluição com outros fluídos durante a manutenção.
- Fluído sem características aditivas de resistência térmica (ex.: ausência de estabilizadores de temperatura)
- Falta de aditivos no fluído, como estabilizadores térmicos, antioxidantes ou anti espuma.
- Utilização de fluído recondicionado ou de qualidade inferior, sem propriedades de resistência ao calor.
- Substituição inapropriada de fluído durante a manutenção por um não compatível com as exigências de temperatura.
- Baixo Nível de Fluído Hidráulico
- Fugas que causam perda de fluído e pressão adicional na bomba
- Desgaste dos vedantes das válvulas, causando fugas.
- Rachaduras ou fissuras nas tubagens devido a vibração e uso prolongado.
- Aperto inadequado das ligações hidráulicas, criando pequenas fugas.
- Insuficiente reabastecimento após manutenção
- Erros de medição de fluído, levando a níveis inferiores aos recomendados.
- Falta de verificação do nível após o processo de purga de ar na linha.
- Procedimentos de manutenção incompletos, negligenciando o reenchimento do fluído.
- Sucção de ar na linha, o que aumenta o esforço da bomba e a temperatura
- Fuga nas juntas de conexão, que permite a entrada de ar.
- Dificuldades na purga do sistema, deixando bolhas de ar na linha.
- Entrada de ar devido a baixo nível de fluído no reservatório, causando cavitação.
- Falta de filtragem adequada
- Falha nos Atuadores Hidráulicos
- Desgaste dos o-rings dos cilindros
- Deformação do êmbolo ou do cilindro
- Deficiência no curso dos atuadores
FTA – Interpretação da Análise
- Este esquema permitiu observar que a falha no sistema hidráulico do torno automático pode ter múltiplas causas, que podem ser classificadas em cinco categorias principais. Em cada uma, as causas subjacentes ajudam a identificar pontos de manutenção preventiva, como a inspeção de tubagens, filtragem de fluído e verificação de componentes da bomba e atuadores.
- Como foi possível identificar, este exemplo permite compreender como evitar o impacto da deterioração do fluído hidráulico que pode gerar os seguintes efeitos em cadeia: deterioração do fluído hidráulico por temperatura excessiva como uma causa provável da falha no sistema hidráulico, podemos aprofundar a análise FTA para identificar o motivo primeiro do aumento de temperatura.
- Este nível de detalhe, no desdobramento das causas secundárias, permite direcionar medidas preventivas altamente específicas. Desta forma, é possível implementar rotinas de inspeção e manutenção muito mais eficazes para evitar o sobreaquecimento e garantir que o fluído hidráulico mantém as suas propriedades adequadas para o funcionamento do torno automático.
- Este exemplo permite compreender como evitar o impacto da deterioração do fluído hidráulico que pode gerar os seguintes efeitos em cadeia:
- Redução da Lubrificação: a viscosidade do fluído deteriorado baixa, afetando a lubrificação dos componentes, o que causa mais desgaste.
- Acumulação de Depósitos: o fluído aquecido gera depósitos e resíduos que obstruem filtros e válvulas, reduzindo o fluxo.
- Perda de Eficiência nos Atuadores: o aumento da temperatura e os resíduos do fluído deteriorado reduzem a eficiência dos cilindros e pistões, o que leva a falhas nos movimentos.
- Conclusões e Recomendações
- A análise sugere que é essencial:
- Verificar o sistema de arrefecimento regularmente, limpando obstruções e inspecionando ventiladores e termóstatos.
- Monitorizar os níveis de fluído hidráulico e proceder a reabastecimentos sempre que necessário para evitar sobrecarga.
- Utilizar fluído hidráulico com as especificações corretas, assegurando que tem resistência a altas temperaturas.
- Estabelecer ciclos de manutenção preventiva para controlar a pressão de trabalho e evitar sobrecargas.
- Este aprofundamento da FTA fornece um diagnóstico mais específico e permite ações preventivas detalhadas para mitigar futuras falhas devido à deterioração do fluído hidráulico por temperatura.
FTA – Objetivos
- Identificar Causas de Falhas: determinar as causas raiz de falhas em sistemas complexos, permitindo a implementação de medidas corretivas eficazes.
- Avaliar Riscos: estimar a probabilidade de ocorrência de falhas e os riscos associados, ajudando à tomada de decisões informadas.
- Prevenir de Falhas: identificar potenciais falhas antes que ocorram, permitindo a implementação de medidas preventivas para evitar problemas futuros.
- Melhorar a Segurança: aumentar a conformidade com normas de segurança e ajudar a mapear a relação entre falhas e subsistemas.
- Planear a Manutenção: estabelecer prioridades para a manutenção com base na probabilidade e no impacto das falhas identificadas.
- Apoiar a Tomada de Decisões: fornecer uma base quantitativa para decisões relacionadas à segurança e confiabilidade dos sistemas.