EOQ (Economic Order Quantity)
Uma boa gestão de compras não é um custo, é um investimento que define o sucesso da produção.
A diferença entre uma empresa que prospera e uma que luta para sobreviver está na forma como gere os seus stocks.
Reduzir desperdícios começa na inteligência das compras – comprar o necessário, no momento certo e ao melhor custo.
Os números não mentem: aplicar a “EOQ” e monitorizar o stock de segurança significa menos custos e mais eficiência.
As PME que deixam as compras ao acaso são reféns das emergências – as que planeiam antecipam e controlam o seu futuro.
A rutura de stock e o excesso de inventário são dois lados do mesmo problema – a falta de gestão estratégica.
Na indústria, quem domina a gestão de compras domina os custos, o tempo de resposta e a sustentabilidade do negócio.
Índice
- 1. Introdução
1. Introdução
- A gestão eficiente de inventário é um dos grandes desafios das PME industriais transformadoras. Embora ferramentas como a Quantidade Económica de Encomenda (EOQ) sejam amplamente estudadas em teoria, a sua aplicação prática continua a ser negligenciada ou mal compreendida por muitos gestores. O impacto dessa falha reflete-se em custos desnecessários, desperdício de recursos e, mais preocupante, na ocorrência de ruturas de stock que comprometem a produção e a satisfação do cliente.
- Neste artigo, exploramos de forma detalhada e aplicada como as PME podem calcular corretamente os parâmetros essenciais para a gestão de inventário, nomeadamente:
- Procura Anual (D)
- Como determinar com precisão a necessidade real de cada artigo.
- Custo por Encomenda (S)
- A importância de considerar todos os custos envolvidos no processo de compra.
- Custo de Posse (H)
- Os fatores que afetam o custo de armazenagem e estratégias para minimizá-lo.
- EOQ na prática
- Como utilizar esta metodologia para encontrar o equilíbrio ideal entre compras frequentes e custos de stock.
- Quantidade Crítica
- Como evitar ruturas de stock através de uma monitorização precisa e uma ação ágil do serviço de compras.
- Além de detalharmos os cálculos fundamentais, abordamos os desafios enfrentados pelas PME na aplicação da EOQ, desde a falta de dados fiáveis até à resistência à mudança nas práticas de compras. Propomos soluções concretas, alinhadas com a realidade das PME industriais, que permitem não só a redução de custos, mas também a melhoria do fluxo operacional e do desempenho da produção.
- Por fim, apresentamos um caso prático detalhado, demonstrando como um serviço de compras pode atuar proactivamente para evitar ruturas de stock, utilizando cálculos reais e ajustados às necessidades da empresa.
- Este artigo destina-se a gestores de produção, responsáveis de compras, diretores industriais e todos os profissionais envolvidos na gestão de inventário e aprovisionamento. O seu objetivo é fornecer um guia claro e aplicável que transforme a gestão de compras de um fator de risco para um elemento estratégico de competitividade e eficiência operacional.
2. Origem e Evolução
- A Quantidade Económica de Encomenda – EOQ (Economic Order Quantity) tem a sua origem nos estudos sobre gestão de inventário e otimização de custos logísticos, remontando ao início do século XX.
- O modelo EOQ foi formalmente desenvolvido por Ford Whitman Harris, um engenheiro norte-americano, em 1913. O seu trabalho foi publicado no artigo “How Many Parts to Make at Once”, onde apresentou um método matemático para determinar o tamanho ótimo de encomenda de peças ou matérias-primas.
- Apesar da sua formulação inicial, o modelo só ganhou popularidade quando R. H. Wilson o aplicou e desenvolveu amplamente para uso empresarial. Por esse motivo, o EOQ é muitas vezes referido como o Modelo de Wilson.
- O modelo EOQ foi posteriormente adaptado para incluir variações como:
- EOQ com descontos por quantidade
- EOQ com reposição gradual (produção contínua)
- EOQ com variação da procura
- Embora o modelo básico tenha limitações, continua a ser amplamente utilizado como ferramenta de gestão de inventário e logística, sendo aplicado em ERP, SCM e sistemas de planeamento de produção.
- A EOQ é um exemplo clássico de como a matemática aplicada pode otimizar processos industriais e logísticos, reduzindo custos e melhorando a eficiência operacional.
3. Objetivo do Modelo
- O modelo EOQ procura minimizar o custo total de gestão de inventário, que inclui:
- Custos de encomenda (custos administrativos e logísticos por cada pedido).
- Custos de posse de inventário (armazenagem, obsolescência, custo de capital imobilizado).
- O equilíbrio entre estes dois custos permite encontrar um ponto ótimo de reabastecimento que minimiza o custo total de aprovisionamento.
4. Cálculo da EOQ
- O modelo base da EOQ assume um consumo constante e imediato dos produtos, sem ruturas de stock nem descontos por quantidade.
4.1. Determinação dos Parâmetros – D S H
Cálculo do Consumo Anual – D
- Cálculo Direto a partir de Vendas Históricas
- Com base nos dados históricos de vendas, obtém-se o valor D somando as vendas do produto ao longo do último ano.
- Fórmula:
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- Onde:
- D = Procura Anual
- Vi = Quantidade vendida no mês i
- Exemplo 1:
- Loja de Componentes Eletrónicos
- Uma loja vende um tipo específico de condensador. As vendas dos últimos 12 meses foram:
Mês | Quantidade Vendida |
Janeiro | 120 |
Fevereiro | 100 |
Março | 130 |
Abril | 140 |
Maio | 125 |
Junho | 110 |
Julho | 135 |
Agosto | 145 |
Setembro | 120 |
Outubro | 150 |
Novembro | 155 |
Dezembro | 160 |
D = 120 + 100 + 130 + 140 + 125 + 110 + 135 + 145 + 120 + 150 + 155 + 160 = 1.570 |
- A procura anual D = 1.570 unidades.
- Cálculo Baseado na Procura Média Mensal
- A partir dos dados de vendas médias por mês, pode estimar-se a procura anual multiplicando pela quantidade de meses no ano.
- Fórmula:
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- Onde:
- Vm = Média de vendas mensais
- Exemplo 2:
- Distribuidor de Equipamentos Industriais
- Um distribuidor vende em média 250 unidades por mês de um motor elétrico.
D = 250 × 12 = 3.000 |
- A procura anual estimada é D = 3.000 unidades.
- Cálculo por Tendências de Crescimento
- Se a empresa está em crescimento ou tem sazonalidade, a procura anual pode ser ajustada para refletir essa tendência.
- Fórmula:
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- Onde:
- G = Taxa de crescimento esperada (em decimal)
- Exemplo 3:
- Fábrica de Embalagens
- A fábrica vendeu 20.000 unidades no ano passado e prevê um crescimento de 5%.
D = 20.000 × (1 + 0.05) = 21.000 |
- A procura anual ajustada é D = 21.000 unidades.
- Cálculo para Produtos Novos
- Se o produto ainda não tem histórico, a estimativa de D pode basear-se em estudos de mercado ou no volume de pedidos dos clientes.
- Exemplo 4:
- Novo Produto no Mercado
- Uma empresa vai lançar um novo detergente e estima, com base em pesquisas, que cada cliente comprará 30 unidades por anoe terá 500 clientes..
D = 30 × 500 = 15.000 |
- A procura anual estimada é D = 15.000 unidades.
- Ajuste para Produtos com Ciclo de Vida Curto
- Para produtos sazonais ou com ciclo de vida curto (ex.: moda, tecnologia), pode estimar-se D a partir de campanhas de lançamento e histórico de produtos semelhantes.
- Exemplo 5:
- Produto Sazonal (Óculos de Sol)
- Uma ótica vendeu 35.000 unidades no verão passado e prevê um aumento de 10%.
D = 5.000 × 1.10 = 5.500 |
- A procura anual esperada é D = 5.500 unidades.
- Conclusão
- O método a utilizar depende do tipo de produto e da disponibilidade de dados. Se houver histórico de vendas, a soma dos valores anuais é a abordagem mais precisa. Para novos produtos ou mercados em crescimento, devem ser consideradas tendências e estimativas.
Cálculo do Custo por Encomenda (Setup Cost) – S
- O Custo por Encomenda (S) representa os custos fixos incorridos sempre que uma nova encomenda é feita, independentemente da quantidade adquirida. Este custo pode incluir despesas administrativas, tempo gasto no processamento, custos de transporte fixos, e outros custos indiretos.
- Componentes do Custo por Encomenda (S)
- Os principais elementos que compõem o custo por encomenda incluem:
- Custos Administrativos
- Tempo e esforço gasto por funcionários para processar a encomenda, incluindo:
- Emissão e aprovação da ordem de compra
- Comunicação com fornecedores
- Entrada de dados no sistema ERP
- Registo e reconciliação de faturas
- Custos de Receção e Inspeção:
- Tempo gasto no recebimento dos produtos
- Conferência de quantidades e verificação de qualidade
- Armazenamento e organização no armazém
- Custos Fixos de Transporte:
- Custos de envio que não dependem da quantidade encomendada (ex.: taxa mínima de transporte)
- Custos de Configuração Interna (Setup Cost):
- Se a encomenda estiver associada a um processo de produção interna, pode incluir o custo de preparação de máquinas, ajustes de parâmetros e tempo de inatividade.
- Fórmula Geral para o Cálculo de S
- Fórmula genérica para calcular o custo por encomenda
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- Onde:
- CA = Custo administrativo por encomenda (processamento, aprovação, entrada no sistema)
- CR = Custo de receção e inspeção (tempo e mão de obra)
- CT = Custo fixo de transporte (custo mínimo de envio)
- CS = Custo de setup interno (preparação de máquinas, ajustes)
- Exemplos Práticos
- Exemplo 1 – Empresa de Fabricação de Peças Metálicas de Precisão
- Faz encomendas regulares de um componente específico. Os custos médios por encomenda são:
- CA = 25 € (tempo de processamento da ordem)
- CR = 15 € (receção e inspeção)
- CT = 20 € (custo fixo de transporte)
- CS = 40 € (ajuste de máquinas)
S = 25 + 15 + 20 + 40 = 100 |
- O Custo por Encomenda é 100 €.
- Exemplo 2 – Empresa de Retalho
- Uma loja de artigos eletrónicos encomenda mensalmente smartphones de um fornecedor. Os custos envolvidos são:
- CA = 10 € (custo administrativo)
- CR = 8 € (tempo gasto no armazém para conferência)
- CT = 25 € (taxa mínima de envio)
- CS = 0 (não há custo de setup interno)
S = 10 + 8 + 25 + 0 = 43 |
- O Custo por Encomenda é de 43 €.
- Exemplo 3 – Indústria Metalomecânica
- Uma empresa metalomecânica encomenda chapas de aço para fabricar reservatórios. Cada encomenda gera os seguintes custos:
- CA = 30 € (processo de aprovação da ordem de compra)
- CR = 20 € (tempo para conferência e inspeção)
- CT = 50 € (frete fixo)
- CS = 100 € (ajuste das prensas e trocas de ferramentas)
S = 30 + 20 + 50 + 100 = 200 |
- O Custo por Encomenda é de 200 €.
- Considerações Importantes
- As Empresas podem reduzir o Custo por Encomenda automatizando processos administrativos, negociando melhores condições de transporte e otimizando fluxos de trabalho.
- Se uma empresa realiza várias encomendas pequenas, pode ser vantajoso aumentar a quantidade encomendada por pedido, reduzindo a frequência das encomendas e minimizando o impacto dos custos fixos.
Cálculo do Custo de Posse por Unidade e por Ano (H)
- O Custo de Posse de Inventário (H) representa os custos associados a manter uma unidade de produto em stock durante um ano. Esses custos incluem armazenagem, capital imobilizado, obsolescência, seguros, e outros fatores que afetam o custo total de manutenção do inventário.
- Componentes do Custo de Posse (H)
- Os principais fatores que contribuem para o custo de posse (H) são:
- Custo de Capital Imobilizado (CC)
- Representa o custo do dinheiro investido no stock, ou seja, a taxa de retorno que a empresa poderia obter caso o capital estivesse investido noutra área.
- Depende da taxa de juro anual ou do custo de oportunidade da empresa.
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- Onde:
- P = Preço unitário do item
- i = Taxa de juro anual (ou custo de oportunidade)
- Custos de Armazenagem (CA)
- Inclui renda do espaço de armazenagem, custo de manuseamento, energia elétrica e outros custos associados à manutenção do stock.
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- Custo de Obsolescência e Deterioração (CO)
- Representa perdas associadas a:
- Produtos perecíveis (ex.: alimentos)
- Obsolescência tecnológica (ex.: eletrónica)
- Produtos que perdem valor ao longo do tempo (ex.: moda)
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- Onde:
- O = Taxa anual estimada de obsolescência
- Custos de Seguro e Segurança (CS)
- Se a empresa paga seguro para cobrir perdas ou danos no stock, este valor deve ser incluído.
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- Fórmula Geral para o Cálculo do Custo de Posse (H)
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- Ou, substituindo as expressões:
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- Exemplos Práticos
- Exemplo 1 – Loja de Componentes Eletrónicos
- Uma loja vende microprocessadores com as seguintes características:
- Preço unitário: 50 €
- Taxa de juro anual (i): 8%
- Custo total de armazenagem anual: 2.000 € (aluguer, eletricidade, manuseio)
- Quantidade média armazenada por ano: 1.000 unidades
- Taxa de obsolescência (O): 5%
- Custo total anual de seguro: 500 €
- Custo de Capital Imobilizado:
CC = 50 × 0.08 = 4 |
- Custo de Armazenagem por unidade:
CA = 2.000 / 1.000 = 2 |
- Custo de Obsolescência:
CO = 50 × 0.05 = 2.5 |
- Custo de Seguro por unidade:
CS = 500 / 1.000 = 0.5 |
- Custo de Posse por unidade e por ano é 9 €.
H = 4 + 2 + 2.5 + 0.5 = 9 |
- Exemplo 2 – Empresa de Retalho (Armazém de Eletrodomésticos)
- Uma empresa vende máquinas de lavar roupa e mantém um stock médio de 500 unidades. Os dados são:
- Preço unitário: 400 €
- Taxa de juro anual: 10%
- Custo de armazenagem anual: 50.000 €
- Taxa de obsolescência: 3%
- Custo anual de seguro: 10.000 €
- Custo de Capital Imobilizado:
CC = 400 × 0.10 = 40 |
- Custo de Armazenagem por unidade:
CA = 50.000 / 500 = 100 |
- Custo de Obsolescência:
CO = 400 × 0.03 = 12 |
- Custo de Seguro por unidade:
CS = 10.000 / 500 = 20 |
- Custo de Posse por unidade e por ano é de 172 €.
H = 40 + 100 + 12 + 20 = 172 |
4.2. Fórmula de Cálculo da EOQ
- A fórmula geral de cálculo é:
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- Onde:
- D = Consumo anual do produto
- S = Custo por encomenda (setup cost)
- H = Custo de posse por unidade e por ano
- Esta equação deriva da minimização da soma dos custos de encomenda e dos custos de posse.
Conclusões
- Quanto maior for o custo de posse, menor deverá ser a quantidade encomendada por pedido, para evitar excesso de inventário.
- Empresas de produtos perecíveis ou tecnológicos tendem a ter custos de posse elevados devido à obsolescência.
- Otimizar o espaço de armazenagem e reduzir os custos de capital pode baixar o custo de posse.
5. Dificuldades de Cálculo da EOQ nas PME Industriais
- A EOQ (Economic Order Quantity) é um modelo fundamental para a gestão eficiente de inventário, mas a realidade da maioria das PME industriais transformadoras revela uma grande dificuldade em calcular corretamente os seus parâmetros. Muitos gestores não têm acesso a dados fiáveis, não compreendem o impacto dos custos indiretos e baseiam as suas decisões apenas na intuição ou em hábitos adquiridos ao longo do tempo.
- Principais dificuldades no cálculo dos parâmetros da EOQ e estratégias práticas para ultrapassá-las.
- Dificuldades no Cálculo da Procura Anual (D)
- Problemas Comuns
- Falta de registos organizados
- Muitas PME não possuem um sistema de gestão eficaz e registam as vendas manualmente ou em ficheiros dispersos.
- Variação da procura
- A procura de muitos produtos é sazonal ou depende de fatores externos imprevisíveis.
- Desconhecimento de tendências
- Muitos gestores não analisam dados históricos e assumem que as vendas futuras seguirão os padrões do passado.
- Como Ultrapassar
- Implementar um ERP ou um sistema de registo estruturado
- Softwares de gestão, como um ERP industrial, ajudam a consolidar dados históricos e prever tendências.
- Analisar os últimos 12 meses de vendas
- Mesmo sem um sistema sofisticado, pode-se começar por calcular a média de vendas mensais e projetar para o ano.
- Utilizar ferramentas simples como Excel ou Python
- Criar um registo de vendas estruturado permite calcular D facilmente.
- Exemplo
- Uma PME que fabrica peças metálicas pode começar por analisar a quantidade vendida nos últimos 12 meses e identificar padrões sazonais antes de calcular a procura anual.
- Dificuldades no Cálculo do Custo por Encomenda (S)
- Problemas Comuns
- Desconhecimento dos custos administrativos
- O tempo dos funcionários, os processos burocráticos e os custos de emissão de encomendas não são contabilizados.
- Ignorar custos de receção e inspeção
- Muitas PME não consideram o tempo e os recursos gastos na verificação da encomenda.
- Desconhecimento dos custos fixos de transporte
- Empresas frequentemente subestimam os custos mínimos de envio e frete.
- Como Ultrapassar
- Mapear o processo de encomenda
- Identificar todas as etapas envolvidas (tempo de processamento, verificação e armazenamento).
- Atribuir custos realistas
- Registar quanto tempo cada tarefa leva e calcular o custo por hora dos funcionários envolvidos.
- Consultar fornecedores sobre taxas mínimas de transporte
- Muitas PME desconhecem os custos reais associados a cada encomenda.
- Exemplo
- Uma PME metalomecânica descobre que cada encomenda exige 1 hora do gestor de compras (€15/h), 30 minutos do armazém (€10/h), e uma taxa mínima de transporte de 30 €. Assim, o custo por encomenda (S) será:
S = (1 × 15) + (0.5 × 10) + 30 = 50 |
- Dificuldades no Cálculo do Custo de Posse (H)
- Problemas Comuns
- Gestores não incluem todos os custos de posse
- Armazenagem, capital imobilizado, obsolescência e seguro são frequentemente ignorados.
- Subestimação do custo de capital
- Muitas PME assumem que o custo de manter stock é irrelevante, sem considerar que o dinheiro poderia ser investido noutras áreas.
- Desconhecimento do impacto da obsolescência e deterioração
- Empresas com produtos de ciclo de vida curto ou vulneráveis a danos não calculam corretamente as perdas anuais.
- Como Ultrapassar
- Incluir todos os elementos do custo de posse
- Armazém, custo do dinheiro investido, obsolescência e seguros.
- Calcular a taxa de custo de capital
- Considerar a taxa de juro bancária ou o retorno esperado sobre o investimento.
- Monitorizar obsolescência e deterioração
- Criar um histórico de perdas para estimar a taxa anual de produtos não vendidos ou danificados.
- Exemplo
- Uma PME de plásticos industriais descobre que:
- O preço unitário de um componente é 20 €.
- A taxa de juro anual é 7%.
CC = 20 × 0.07 = 1.4 |
- O custo de armazenagem anual é de 10.000 € para 5.000 unidades
CA = 10.000 / 5.000 = 2 |
- A taxa de obsolescência é de 5%
CO = 20 × 0.05 = 1 |
- O custo anual do seguro é 2.000 €
CS = 2.000 / 5.000 = 0.4 |
- O custo de posse por unidade e por ano é 4,80 €.
H = 1.4 + 2 + 1 + 0.4 = 4.8 |
- Dificuldades Gerais na Implementação da EOQ nas PME
- Mesmo após calcular D, S e H, muitas PME enfrentam dificuldades na aplicação da EOQ.
- Problemas Comuns
- Resistência à mudança
- Os gestores estão habituados a encomendar de forma intuitiva.
- Falta de cultura analítica
- Muitas PME não utilizam ferramentas de análise de dados.
- Desafios na integração com fornecedores
- Algumas empresas enfrentam dificuldades em ajustar os volumes de encomenda devido a quantidades mínimas impostas pelos fornecedores.
- Como Ultrapassar
- Demonstrar os benefícios financeiros da EOQ
- Apresentar os cálculos aos decisores para mostrar a redução de custos.
- Utilizar ferramentas acessíveis
- Folhas Excel e ERP’s podem ajudar a automatizar o cálculo e a sugerir volumes de encomenda.
- Negociar com fornecedores
- Mostrar os ganhos em eficiência pode permitir ajustes nos volumes mínimos exigidos.
- Exemplo
- Uma PME que compra matéria-prima de forma irregular e em grandes lotes calcula a sua EOQ e percebe que pode reduzir custos mantendo um stock menor. Após implementar a metodologia, consegue reduzir os custos anuais de armazenagem em 15%, o que melhora a sua liquidez.
- Conclusões
- A dificuldade das PME industriais transformadoras em calcular corretamente os parâmetros da EOQ é uma realidade preocupante, mas superável com processos estruturados, ferramentas adequadas e mudança de mentalidade.
- A falta de dados pode ser resolvida com um ERP ou um registo disciplinado das vendas e custos.
- Os custos ocultos da encomenda e da posse do inventário devem ser identificados e quantificados corretamente.
- O uso da EOQ pode representar uma vantagem competitiva ao reduzir custos e melhorar a eficiência do capital investido.
- Se os gestores adotarem uma abordagem mais analítica e estruturada, a gestão de inventário pode ser transformada numa área de eficiência e poupança real para a empresa.
6. Observações Importantes
6.1. Aplicação Prática da EOQ em Ambientes de Produção Lean
- Várias PME já adotam Práticas Lean Manufacturing, onde se procura minimizar os níveis de stock. A EOQ pode parecer contraditória, mas é compatível com estratégias como Just-in-Time (JIT), desde que os fornecedores tenham lead times curtos e fiáveis.
- Sugestão prática
- Integrar a EOQ com um sistema Kanban para reabastecimento automático de matérias-primas.
6.2. Ajustes na EOQ para Empresas com Múltiplos Produtos
- Se uma PME trabalha com vários produtos em simultâneo, a EOQ deve ser ajustada para considerar capacidade de armazenamento, capital disponível e sincronização com a produção.
- Exemplo
- Uma empresa de metalomecânica que fabrica diferentes componentes pode calcular a EOQ para cada um, mas ajustá-la consoante a utilização de matéria-prima comum.
6.3. Integração da EOQ com o Planeamento de Produção
- A EOQ não deve ser vista isoladamente, mas sim integrada no MRP (Material Requirements Planning) e na estratégia de Planeamento e Controlo da Produção.
- Sugestão Prática
- Utilizar os cálculos da EOQ para ajustar o reabastecimento de matérias-primas e componentes, evitando tanto excesso de stock como falta de materiais.
6.4. Sensibilidade à Variabilidade da Procura e Lead Time
- O modelo EOQ clássico assume uma procura constante, mas na prática as PME enfrentam flutuações de mercado e atrasos nos fornecedores.
- Solução
- Incorporar um stock de segurança para o cálculo da EOQ para absorver variações inesperadas.
6.5. EOQ com Restrições Financeiras
- Muitas PME têm limitações de liquidez e não podem simplesmente seguir o resultado da EOQ sem avaliar o impacto no fluxo de caixa.
- Alternativa
- Implementar um modelo de EOQ ajustada ao capital disponível, equilibrando custo de posse vs. custo de capital.
6.6. Ferramentas Digitais para Automatizar o Cálculo da EOQ
- Hoje existem ferramentas simples (como Excel ou Python) e ERP industriais como ProboolIM® que podem calcular a EOQ automaticamente.
- Sugestão prática
- Criar um dashboard de gestão de inventário onde os cálculos de EOQ são feitos regularmente e revistos em função dos dados reais.
6.7. Conclusão
- A EOQ não é apenas uma fórmula matemática, mas sim uma ferramenta estratégica para melhorar a gestão de inventário e reduzir custos nas PME industriais transformadoras. Integrá-la com práticas Lean, Planeamento de Produção e Análise Financeira pode transformar a forma como estas empresas gerem os seus stocks e capital.
7. O Serviço de Compras no Contexto da EOQ
- O serviço de compras desempenha um papel fundamental na gestão eficiente do stock e deve alinhar-se com a EOQ (Economic Order Quantity) para otimizar custos e evitar ruturas ou excesso de inventário.
- Identificação de Oportunidades para Aplicar a EOQ
- Sempre que um artigo atinge a quantidade crítica, o serviço de compras deve:
- Verificar se a EOQ deve ser utilizada para definir a quantidade ideal a encomendar.
- Analisar restrições financeiras que podem comprometer a quantidade a comprar.
- Considerar descontos por quantidade e custos logísticos na decisão de compra.
- Exemplo
- Se a EOQ para um tipo material for 2.000 kg, mas a quantidade crítica indicar uma necessidade imediata de apenas 1.500 kg, o serviço de compras pode optar por antecipar uma encomenda maior (se houver espaço de armazenagem e fluxo de caixa disponível).
- A EOQ clássica e procura variável.
- O serviço de compras deve:
- Monitorizar e atualizar os parâmetros da EOQ conforme mudanças na procura ou lead times.
- Utilizar dados históricos e previsões para ajustar a EOQ dinamicamente.
- Coordenar com a produção para evitar compras excessivas de matérias-primas de baixa rotação.
- Exemplo
- Se o lead time de um fornecedor aumentar de 2 para 4 semanas, a EOQ pode precisar de ser ajustada para evitar ruturas.
- Integração com o Planeamento da Produção
- O serviço de compras deve trabalhar em conjunto com a produção e a gestão de armazéns para garantir que:
- As encomendas são feitas a tempo e na quantidade certa.
- Não há desperdício de espaço no armazém devido a stocks excessivos.
- Os fornecedores cumprem prazos e condições negociadas.
- Sugestão prática
- Implementar um dashboard de gestão de compras que mostre em tempo real:
- O stock disponível.
- As quantidades encomendadas e os respetivos prazos de entrega.
- As necessidades futuras, ajustadas ao planeamento da produção.
- Gestão de Fornecedores e Negociação
- Para alinhar a EOQ com a realidade operacional, o serviço de compras deve:
- Negociar menores custos de encomenda (S) para reduzir a EOQ.
- Estabelecer contratos de fornecimento flexíveis para evitar compras excessivas.
- Avaliar a fiabilidade dos fornecedores e procurar reduzir lead times.
- Exemplo
- Se um fornecedor oferece descontos para compras acima de 5.000 unidades, pode ser mais vantajoso:
- Aumentar a frequência das encomendas (se o custo de posse for baixo).
- Reduzir a quantidade por encomenda se os custos administrativos (S) puderem ser minimizados.
- Adaptação às Restrições Financeiras
- O serviço de compras deve considerar:
- O fluxo de caixa disponível para evitar compras que comprometam a tesouraria.
- A EOQ ajustada ao orçamento, garantindo que as encomendas não geram problemas financeiros.
- Exemplo
- Se a EOQ de um artigo for 10.000 € por encomenda, mas o orçamento mensal só permite compras de 5.000 €, pode ser necessário fazer compras mais frequentes em menores quantidades.
- Conclusão
- O serviço de compras deve atuar estrategicamente, combinando EOQ, quantidade crítica e planeamento da produção para otimizar os stocks e os custos. As principais ações incluem:
- Monitorizar continuamente a quantidade crítica e agir rapidamente para evitar ruturas.
- Utilizar a EOQ sempre que possível, ajustando-a conforme lead times e procura.
- Colaborar com a produção para alinhar compras com necessidades reais.
- Negociar melhor com fornecedores para reduzir custos de encomenda e lead times.
- Garantir que a EOQ se ajusta ao fluxo de caixa disponível, sem comprometer a liquidez da empresa.
8. Quantidade Crítica
- Quantidade Crítica entendida como Quantidade Mínima Necessária para satisfazer compromissos de produção.
- Fórmula de cálculo com lead times normais (curtos):
Qtd. Crítica = (NT + Stock de Segurança) − (Stock Físico Atual + EP) |
- Fórmula de cálculo com lead times longos:
Qtd. Crítica = (NTH + Stock de Segurança) − (Stock Físico Atual + EP) |
- NT – Necessidades Totais à Data
- NHT – Necessidades Totais num Horizonte Temporal
- EP – Total das encomendas feitas a fornecedores e pendentes de entrega
- Critério de Análise:
- Se Qtd. Crítica > 0, indica a quantidade mínima que deve ser encomendada.
- Se Qtd. Crítica = 0, significa que o stock disponível (incluindo encomendas pendentes) é suficiente.
- Se Qtd. Crítica < 0, significa que não é necessário reabastecer no momento.
- Análise do Cálculo
- As Necessidades Totais à Data (NT) são fundamentais
- Para evitar rutura de stock, o cálculo precisa considerar as necessidades planeadas, com base nas ordens de produção abertas, encomendas de clientes e previsões de consumo.
- As Necessidades Totais (NHT)
- Com lead times longos as necessidades planeadas devem ter em conta o tempo de reposição do stock (considerando lead times médios dos fornecedores e tempos internos de processamento)
- O Stock de Segurança deve ser incluído
- Garante que variações na procura ou atrasos dos fornecedores não têm impacto negativamente na produção.
- Faz sentido considerar a Stock Físico Atual e as Encomendas em Trânsito
- Estes valores refletem a disponibilidade real do stock num determinado momento.
- As quantidades encomendadas ainda não recebidas devem ser incluídas, desde que os prazos de entrega sejam confiáveis.
- Exemplo
- Uma empresa de placas sandwich telhado utiliza um determinado material. Deve ou não fazer reposição de stock nas seguintes condições?
- Existência Física Atual = 300 kg
- Encomendas pendentes = 1.000 kg (chega em 2 semanas)
- Necessidades Totais nas próximas 3 semanas = 1.200 kg
- Stock de Segurança = 200 kg
- Análise da situação pela aplicação da fórmula da Qtd. Crítica
Qtd. Crítica = (1.200 + 200) − (300 + 1.000) = 100 kg |
- Conclusão
- É necessário reabastecer no momento sendo a quantidade mínima necessária de 100 Kg para satisfazer todos os compromissos.
9. Exemplo Prático Detalhado
9.1. Dados do Situação
- Relativamente a um determinado tipo de chapa em armazém de uma empresa metalomecânica temos os seguintes dados.
- Existência Física Atual = 3.000 kg
- Encomendas pendentes = 5.000 kg (chega em 2 semanas)
- Necessidades Totais nas próximas 3 semanas = 7.500 kg
- Stock de Segurança = 2.000 kg
- Procura Anual (D) = 24.000 Kg
- Custo por Encomenda (S) = 50 €
- Custo de Posse por Unidade (H) = 2 €
- Preço Unitário (P) 5 €
9.2. Perguntas e Respostas
- Qual a situação atual do seu stock?
- Resposta
- Cálculos
- Aplicando a fórmula para cálculo da Quantidade Critica (Quantidade mínima a encomendar)
Qtd. Crítica = (7.500 + 2.000) – (3.000 + 5000) = 1.500 |
- Conclusão:
- Há necessidade de aquisição de 1500 Kg
- Qual a EOQ (quantidade económica a encomendar?
- Resposta
- Cálculos
- Aplicando a fórmula para cálculo da EOQ
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- Conclusão:
- Quantidade Económica para Encomenda é de 1095,45 Kg
- Qual o número de encomendas por ano?
- Resposta
- Cálculos
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- Conclusão:
- Previstas 22 encomendas por ano
- Qual o tempo médio entre encomendas?
- Resposta
- Cálculos
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- Conclusão:
- O tempo médio previsto entre encomendas é de 16,66 dias
- Qual o Custo Total Anual da Gestão de Stock?
- Resposta
- Cálculos
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- Ou seja:
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- Conclusão:
- O Custo Total Anual da Gestão deste Stock é de 2.190,89 Euros
9.3. Como deve reagir o Serviço de Compras?
- Estando a empresa em rutura iminente de stock, o serviço de compras deve agir rapidamente:
- Ação 1: Contactar Fornecedores Imediatamente
- Verificar se a encomenda pendente pode ser antecipada.
- Negociar entregas parciais para receber pelo menos parte do material.
- Procurar fornecedores alternativos para suprir a necessidade temporária.
- Ação 2: Ajustar a Estratégia de Compras
- Se a EOQ indicar que 1.095 kg é a quantidade ótima, pode ser necessário fazer um pedido de urgência, superior, para evitar novas ruturas.
- Exemplo: em vez de comprar apenas 1.095 kg, fazer um pedido de 2.500 kg para repor rapidamente o stock.
- Ação 3: Rever o Stock de Segurança
- Se as ruturas forem recorrentes, o stock de segurança pode estar subestimado.
- Ajustar o stock de segurança para evitar falhas futuras.
- Ação 4: Melhorar o Planeamento da Produção
- Se a necessidade de 7.500 kg for superior ao esperado, avaliar se houve variações na produção que não foram comunicadas ao serviço de compras.
10. A Gestão de Compras – Pilar da Eficiência Operacional
- A correta gestão de compras e inventário é um dos b>principais pilares da eficiência operacional numa PME industrial transformadora.
- A aplicação de metodologias como a Quantidade Económica de Encomenda (EOQ) e a definição de parâmetros críticos de reabastecimento não são apenas exercícios teóricos – são ferramentas que reduzem custos, evitam desperdícios e garantem a continuidade da produção sem interrupções desnecessárias.
- Os exemplos apresentados demonstram que a falta de um sistema estruturado de gestão de stock pode levar a decisões reativas, que resultam em excesso de inventário ou ruturas frequentes. No entanto, com um planeamento adequado, alinhado entre a produção e o serviço de compras, é possível otimizar a cadeia de abastecimento, garantindo que os materiais certos chegam no momento certo, na quantidade ideal e ao menor custo possível.
- Além disso, a capacidade de antecipar necessidades através do cálculo da Quantidade Crítica permite que as PME deixem de viver em estado de urgência constante, ganhando previsibilidade e eficiência. A introdução de ferramentas digitais, como dashboards de monitorização de inventário, pode ajudar a automatizar processos, reduzindo a dependência de decisões intuitivas.
- Mais do que uma questão de números, a gestão eficaz de compras e inventário é um diferencial competitivo. As empresas que adotam uma abordagem estratégica para os seus aprovisionamentos não apenas minimizam desperdícios e custos ocultos, mas também aumentam a sua resiliência e capacidade de resposta ao mercado.
- O desafio agora não é apenas compreender estes conceitos, mas colocá-los em prática. As PME que souberem transformar a sua gestão de compras num processo eficiente, estruturado e baseado em dados fiáveis estarão mais bem preparadas para enfrentar os desafios da indústria e prosperar num mercado cada vez mais competitivo.