CUSUM (Cumulative Sum Control Chart)
O gráfico CUSUM (Cumulative Sum Control Chart) é particularmente eficaz para monitorizar processos onde mudanças subtis podem não ser facilmente identificadas em gráficos de controlo convencionais, como X-barra, R, ou U.
O Gráfico CUSUM é uma ferramenta de controlo estatístico utilizada para detectar mudanças pequenas e graduais no processo.
Ele é baseado no somatório cumulativo das diferenças entre cada ponto de dados e uma média de referência.
Índice
Introdução
- Os Gráficos de Controlo representam uma das ferramentas mais poderosas e versáteis no campo do SPC (controlo estatístico de processos). Entre eles, destaca-se o Gráfico CUSUM (Cumulative Sum Control Chart) pela sua capacidade única de detetar mudanças pequenas e graduais em processos altamente sensíveis e críticos.
- Este trabalho explora as principais características, vantagens e aplicações práticas deste gráfico, evidenciando como ele complementa outras ferramentas mais tradicionais, como os Gráficos X-barra e R.
- O objetivo é demonstrar como o Gráfico CUSUM pode ser aplicado para identificar desvios subtis que, se não forem corrigidos a tempo, podem comprometer a qualidade do produto e a eficiência do processo.
- Através de um exemplo prático detalhado, mostramos a relevância da análise de tendências e da tomada de decisões proativa para garantir a conformidade com as especificações e a satisfação dos clientes.
- Este estudo reforça a importância de selecionar a ferramenta de controlo estatístico mais adequada para cada situação, considerando a natureza do processo e o tipo de variações que se pretende monitorizar.
Aplicabilidade do Gráfico CUSUM
- Monitorização de Mudanças Pequenas no Processo:
- É ideal para identificar alterações graduais na média ou na variabilidade do processo.
- Exemplo: pequenos desvios na espessura de folhas metálicas que podem acumular-se ao longo do tempo.
- Processos com Elevada Estabilidade Inicial:
- Em processos estáveis, as alterações podem ser pequenas e difíceis de identificar com gráficos tradicionais.
- Exemplo: produção de componentes eletrónicos onde tolerâncias muito pequenas são críticas.
- Necessidade de Resposta Rápida:
- É usado quando é importante identificar mudanças precocemente para evitar desvios significativos.
- Exemplo: monitorizar a qualidade de bebidas para evitar variações no sabor devido a alterações nos ingredientes.
- Complemento de Gráficos Tradicionais:
- O Gráfico CUSUM é frequentemente utilizado em conjunto com outros gráficos, como X-barra e R, para oferecer maior sensibilidade.
Processos que Beneficiam com Gráficos CUSUM
- O Gráfico CUSUM é especialmente eficaz em identificar pequenas mudanças gradativas (< 1.5 σ) no processo, antes que elas se tornem significativas.
- Processos de Produção Contínua
- Características: produção ininterrupta onde pequenas mudanças acumuladas podem gerar grandes impactos.
- Exemplos:
- Refinação de Petróleo: controlo do teor de enxofre em combustíveis refinados.
- Produção de Vidros: monitorização da espessura do vidro em linhas de produção contínuas.
- Benefício do CUSUM:
- Deteta rapidamente alterações na qualidade do produto devido a mudanças nos parâmetros operacionais.
- Identifica variações antes que grandes quantidades sejam afetadas.
- Processos com Necessidade de Detetar Pequenas Mudanças
- Características: pequenos deslocamentos na média do processo podem afetar a qualidade ou desempenho do produto.
- Exemplos:
- Indústria Eletrónica: monitorização da resistência de circuitos eletrónicos em processos de soldagem.
- Indústria de Embalagens: controlo do peso de recipientes plásticos durante o processo de moldagem por sopro.
- Benefício do CUSUM:
- Destaca pequenas alterações na resistência ou peso que podem ser difíceis de identificar com gráficos tradicionais.
- Permite correções antes que os produtos saiam da especificação.
- Processos de Inspeção de Qualidade
- Características: processos onde o controlo é baseado na proporção de defeitos ou não conformidades.
- Exemplos:
- Inspeção de Tintas e Revestimentos: monitorização de defeitos visuais (bolhas, falhas, fissuras) em lotes de produtos revestidos.
- Indústria Farmacêutica: monitorização de partículas visíveis em frascos de medicamentos líquidos.
- Benefício do CUSUM:
- Identifica aumentos graduais na proporção de defeitos, permitindo ações antes de atingir limites críticos.
- Ajuda a manter padrões de qualidade rigorosos.
- Processos de Controlo Ambiental
- Características: monitorização contínua de parâmetros ambientais críticos.
- Exemplos:
- Tratamento de Águas: monitorização da turbidez ou do nível de cloro na água tratada.
- Monitorização do Ar em Ambientes Industriais: controlo da concentração de partículas ou gases poluentes em ambientes industriais.
- Benefício do CUSUM:
- Deteta alterações lentas nos parâmetros monitorizados, como deterioração de filtros ou desvios no equipamento de dosagem.
- Melhora a conformidade com padrões ambientais.
- Processos de Controlo de Produção Automatizada
- Características: processos automatizados onde pequenos desvios podem comprometer a eficiência.
- Exemplos:
- Indústria Automóvel: monitorização de forças aplicadas em fixadores durante processos robotizados de montagem.
- Indústria de Bebidas: controlo da quantidade de gás carbônico em bebidas gaseificadas.
- Benefício do CUSUM:
- Permite ajuste automático de equipamentos ao detetar tendências no processo.
- Reduz o desperdício ao prevenir variações significativas.
- Processos Financeiros e de Gestão de Recursos
- Características: monitorização de indicadores financeiros ou de eficiência operacional.
- Exemplos:
- Monitorização de Custos Operacionais: controlo de custos em projetos de manufatura.
- Gestão de Inventários: análise de desvios em volumes de stock em relação ao esperado.
- Benefício do CUSUM:
- Ajuda a detetar pequenas alterações nos custos ou nos níveis de inventário que podem indicar problemas estruturais.
- Processos de Controlo em Transporte
- Características: processos com variabilidade regular, mas onde deslocamentos podem indicar problemas críticos.
- Exemplos:
- Logística e Cadeia de Abastecimento: monitorização do tempo médio de entrega de mercadorias.
- Manutenção de Veículos Pesados: controlo de consumo de combustível por quilômetro percorrido.
- Benefício do CUSUM:
- Deteta tendências como aumento nos tempos de entrega ou eficiência reduzida em veículos, permitindo manutenção preventiva.
- Processos de Manutenção Preditiva
- Características: uso de dados contínuos para prever falhas em equipamentos.
- Exemplos:
- Monitorização de Máquinas CNC: controlo do desgaste de ferramentas baseado na precisão das peças produzidas.
- Monitorização de Turbinas Eólicas: controlo de vibrações ou desempenho de rotação para prever falhas.
- Benefício do CUSUM:
- : identifica sinais precoces de desgaste ou deterioração, permitindo intervenções planejadas.
Resumo: Características dos Processos que Beneficiam do CUSUM |
Característica do Processo | Exemplo de Aplicação | Benefício do CUSUM |
Produção contínua | Refinarias, produção de vidros | Deteta alterações antes de grandes impactos |
Necessidade de detetar pequenas mudanças | Indústria eletrónica, embalagens | Ajustes rápidos antes de sair da especificação |
Inspeção de qualidade | Tintas, medicamentos | Redução de defeitos acumulados |
Controlo ambiental | Tratamento de água, monitorização do ar | Conformidade com regulamentos |
Produção automatizada | Montagem automóvel, bebidas gaseificadas | Ajustes automáticos para maior eficiência |
Controlo financeiro e operacional | Custos, inventário | Identificação de problemas estruturais |
Transporte e logística | Tempo de entrega, consumo de combustível | Otimização da eficiência e redução de custos |
Manutenção preditiva | CNC, turbinas eólicas | Prevenção de falhas críticas |
- O Gráfico CUSUM é particularmente útil em processos contínuos, altamente automatizados ou críticos, onde pequenas alterações podem ter grandes impactos ao longo do tempo. A sua sensibilidade permite intervir rapidamente, evitando perdas significativas ou falhas maiores.
Conceitos Teóricos Fundamentais
- Dados Necessários
- Xi : dados observados no processo (ex.: medições ou contagens).
- μ0 : média de referência do processo (valor esperado ou desejado).
- σ : desvio padrão do processo, utilizado para normalizar os desvios.
- Cálculo do Somatório Cumulativo (CUSUM)
- O CUSUM é o somatório cumulativo das diferenças entre cada valor observado (Xi) e a média de referência (μ0):
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- Si : valor do CUSUM cumulativo na i-nésima amostra.
- Xj : valor da j-nésima amostra.
- μ0 : média de referência.
- Forma Padronizada do CUSUM
- Para melhorar a interpretação e sensibilidade, o Gráfico CUSUM é frequentemente representado em forma padronizada:
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- Este formato ajusta as diferenças para a variabilidade natural do processo (σ).
- Gráfico CUSUM com Direção (Positivo e Negativo)
- O CUSUM pode ser dividido em duas componentes para monitorizar desvios positivos e negativos separadamente:
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- C+i : dados observados no processo (ex.: medições ou contagens).
- C–0 : média de referência do processo (valor esperado ou desejado).
- K : desvio padrão do processo, utilizado para normalizar os desvios.
- Linha de Referência e Limites
- Linha Central (Si=0): representa o ponto em que não há desvio acumulado do processo.
- Limites de Controlo (H): determinados pelo desvio padrão (σ) e o fator de decisão (h):
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- Onde h é um multiplicador escolhido com base no nível de sensibilidade desejado.
- Calcular os Limites Ajustados
- Os limites ajustados são calculados em função da tolerância e do somatório cumulativo:
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- UCLAjustado : Limite Superior ajustado
- LCLAjustado : Limite Inferior ajustado
- T : Tolerância Especificada (± 0.005 mm)
- H : Limite de Controlo. Determinado pela configuração do gráfico.
- Vantagens do Gráfico CUSUM
- Sensibilidade: deteta pequenas mudanças mais rapidamente do que gráficos convencionais.
- Versatilidade: pode ser usado para monitorizar tanto médias quanto variabilidades.
- Fácil Integração: complementa outras ferramentas de controlo estatístico.
- UCLAjustado e LCLAjustado são, na prática, considerados o dobro da tolerância de desenho
- Vejamos a justificação teórica:
- Margem para Variabilidade do Processo:
- A tolerância de desenho é geralmente baseada nas especificações funcionais do produto final (por exemplo, dimensões críticas para o desempenho).
- Os limites de controlo ajustados fornecem uma margem adicional para considerar:
- Pequenas flutuações naturais do processo que não comprometem a qualidade.
- Efeitos de erros de medição ou variações ambientais.
- Prevenção de Rejeições Desnecessárias:
- Se os limites de controlo forem iguais à tolerância de desenho, mesmo pequenas variações do processo podem levar a rejeições desnecessárias.
- Ao ajustar os limites de controlo (geralmente o dobro da tolerância), evita-se rejeitar produtos que ainda estão funcionais e dentro das especificações reais.
- Correlação com Capacidade do Processo (Cp):
- Um processo com limites de controlo ajustados ao dobro da tolerância tem um índice de capacidade Cp = 1, o que indica um processo apenas capaz de atender aos requisitos de qualidade, mas sem margem adicional.
- Processos bem controlados visam valores de Cp > 1, o que torna o uso de limites ajustados uma prática conservadora e funcional.
- Monitorização do Processo:
- Limites mais amplos permitem identificar tendências e mudanças sistemáticas antes que o processo ultrapasse os limites de tolerância de desenho.
- Isto dá tempo para intervenções corretivas, evitando a produção de peças fora de especificação.
- Custo-Benefício:
- Definir limites ajustados mais amplos reduz custos com ajustes desnecessários no processo e minimiza a taxa de rejeição de peças que, funcionalmente, ainda são aceitáveis.
- É uma abordagem pragmática para balancear controle e produtividade.
- Os limites ajustados definidos como o dobro da tolerância de desenho são uma prática conservadora que combina variabilidade do processo, custo-benefício e previsibilidade estatística. Estes limites ajudam a equilibrar a necessidade de qualidade com a realidade da variabilidade em qualquer processo produtivo.
Interpretação dos Gráficos CUSUM
- CUSUM Próximo de Zero: indica que o processo está a operar de acordo com a média de referência (μ0).
- CUSUM Positivo Crescente: sinaliza um aumento gradual nos valores observados (Xi > μ0).
- CUSUM Negativo Crescente: indica uma redução gradual nos valores observados (Xi < μ0).
- CUSUM Ultrapassando os Limites (H): sinaliza uma mudança significativa no processo, que deve ser investigada.
- O Gráfico CUSUM é uma ferramenta poderosa para identificar mudanças graduais em processos estáveis. Sua aplicação é essencial em contextos onde a qualidade é crítica e alterações pequenas podem ter impacto significativo. Ao combinar sensibilidade e precisão, o Gráfico CUSUM complementa outras metodologias de controlo estatístico e permite uma monitorização proativa e eficaz.
Análise de Tendência num Gráfico CUSUM
- A análise de tendência num Gráfico CUSUM consiste em interpretar o somatório cumulativo das diferenças entre os valores observados e uma média de referência (μ0). Esta ferramenta é particularmente útil para identificar mudanças subtis e progressivas no processo, que podem não ser evidentes em gráficos tradicionais.
- O que é uma Tendência no Gráfico CUSUM?
- No Gráfico CUSUM, uma tendência é identificada pela forma como os valores acumulados (Si, Ci+, ou Ci−) se comportam ao longo do tempo:
- Tendência Crescente:
- CUSUM aumenta continuamente em direção positiva.
- Indica um aumento progressivo nos valores observados em relação à média de referência (μ0).
- Tendência Decrescente:
- CUSUM diminui continuamente em direção negativa.
- Indica uma redução gradual nos valores observados em relação à média de referência.
- Oscilações:
- Alternância regular entre aumento e diminuição do CUSUM.
- Indica variações cíclicas ou sazonais no processo.
- Estabilidade:
- CUSUM oscila ao redor de zero sem desvios prolongados.
- Indica que o processo está sob controlo estatístico.
- Interpretação de Tendências no Gráfico CUSUM
- Tendência Crescente
- Descrição: os valores acumulados sobem consistentemente acima da linha central (Si = 0).
- Causas Prováveis:
- Aumento gradual nos valores do processo (ex.: desgaste de máquinas ou ferramentas).
- Melhoria contínua na qualidade, se o aumento for desejado.
- Ação: verificar a origem da mudança e, se necessário, realizar ajustes no processo.
- Exemplo: o diâmetro de componentes metálicos aumenta lentamente devido ao desgaste progressivo de ferramentas de corte.
- Tendência Decrescente
- Descrição: os valores acumulados descem consistentemente abaixo da linha central (Si = 0).
- Causas Prováveis:
- Redução gradual nos valores do processo (ex.: qualidade decrescente das matérias-primas).
- Alterações no ambiente ou procedimentos de operação.
- Ação: investigar as causas da redução e implementar medidas corretivas.
- Exemplo: a espessura de folhas metálicas diminui gradualmente devido à falta de calibragem em máquinas de laminagem.
- Oscilações ou Padrões Cíclicos
- Descrição: o CUSUM alterna entre valores positivos e negativos em intervalos regulares.
- Causas Prováveis:: diferenças entre turnos, sazonais ou ambientais (ex.: temperatura, humidade).
- Ação: estabilizar os fatores que causam as oscilações ou ajustar procedimentos para reduzir o impacto.
- Exemplo+: o número de defeitos aumenta durante o turno da noite devido à falta de supervisão, mas diminui nos turnos da manhã.
- Estabilidade
- Descrição: o CUSUM oscila ligeiramente em torno de zero sem mostrar tendências claras.
- Causas Prováveis:: variabilidade natural do processo sem a presença de causas especiais.
- Ação: nenhuma ação necessária, mas continuar a monitorizar o processo.
- Exemplo: pequenas flutuações na espessura de folhas metálicas devido à variabilidade normal do material.
- Etapas para Desenvolver a Análise de Tendências
- Passo 1: Observar o Gráfico
- Identificar se o CUSUM apresenta tendências ascendentes, descendentes, ou oscilações regulares.
- Passo 2: Determinar a Significância das Tendências
- Comparar o comportamento do CUSUM com os limites de controlo (H):
- Se o CUSUM se aproxima ou ultrapassa H, há evidência de uma mudança significativa.
- Passo 3: Investigar a Causa
- Realizar inspeções ou análises para identificar possíveis causas das tendências observadas:
- Fatores mecânicos: desgaste ou falta de calibração de máquinas.
- Fatores humanos: diferenças de desempenho entre turnos.
- Fatores ambientais: mudanças de temperatura ou humidade.
- Passo 4: Implementar Ações Corretivas
- Após identificar as causas, tomar medidas para corrigir o problema:
- Ajustar máquinas ou calibrar ferramentas.
- Melhorar a supervisão ou treinamento dos operadores.
- Exemplos de Aplicação
- Exemplo 1: Tendência Crescente
- Cenário: monitorização da espessura de folhas metálicas.
- Observação: o CUSUM aumenta continuamente.
- Causa: desgaste progressivo dos cilindros de laminagem.
- Ação: substituir os cilindros e implementar manutenção preventiva.
- Exemplo 2: Tendência Decrescente
- Cenário: monitorização de defeitos em componentes pintados.
- Observação: o CUSUM desce continuamente.
- Causa: qualidade inferior das tintas utilizadas.
- Ação: rever o processo de compras e especificações do fornecedor.
- Exemplo 3: Oscilações
- Cenário: monitorização do tempo de produção em diferentes turnos.
- Observação: o CUSUM alterna entre subidas e descidas.
- Causa: diferenças de experiência entre os operadores dos turnos.
- Ação: uniformizar os métodos de trabalho e reforçar o treinamento.
- Recomendações
- Curto Prazo
- Realizar inspeções imediatas em pontos críticos para verificar desvios detetados.
- Ajustar máquinas ou rever matérias-primas problemáticas.
- Médio Prazo
- Estabelecer planos de manutenção preventiva.
- Implementar treinamentos regulares para operadores e supervisores.
- Longo Prazo
- Automatizar a recolha de dados e geração do Gráfico CUSUM.
- Adotar metodologias de melhoria contínua, como Lean ou Six Sigma, para reduzir a variabilidade do processo.
- A análise de tendências num Gráfico CUSUM é uma ferramenta poderosa para detetar mudanças graduais no processo. Ela permite uma intervenção precoce, reduzindo desperdícios e melhorando a qualidade. O sucesso dessa análise depende de uma observação cuidadosa das tendências, da identificação precisa das causas e da implementação de medidas corretivas adequadas.
Limitações Práticas do Gráfico CUSUM
- O Gráfico CUSUM é uma ferramenta eficaz para detetar mudanças pequenas e graduais em processos, mas, como qualquer ferramenta estatística, possui limitações que podem restringir sua aplicação em determinados contextos.
- Sensibilidade Excessiva a Ruído ou Variações Naturais
- Descrição: o CUSUM é altamente sensível a pequenas alterações, o que pode levar à identificação de desvios não significativos, resultando em falsos alarmes.
- Impacto: pode gerar investigação desnecessária em casos de variações naturais do processo, aumentando custos operacionais e atrasos.
- Exemplo: monitorizar um processo com variação natural de ± 0.2 mm em torno de uma média. Pequenas flutuações normais podem ser interpretadas como desvios significativos.
- Alternativa: ajustar os parâmetros de decisão (k e h) para reduzir a sensibilidade ou utilizar Gráficos EWMA (Exponentially Weighted Moving Average), que são menos suscetíveis a ruído.
- Necessidade de Parâmetros Precisos
- Descrição: o Gráfico CUSUM exige que os valores da média de referência (μ0) e do desvio padrão (σ) sejam conhecidos e precisos.
- Impacto: se esses parâmetros forem incorretos ou desatualizados, o gráfico pode produzir resultados enganadores, falhando em detetar mudanças reais.
- Exemplo: em processos com flutuações sazonais, uma média de referência fixa pode não refletir as condições reais do processo.
- Alternativa: utilizar métodos dinâmicos para ajustar os parâmetros com base em dados históricos recentes ou combinar o Gráfico CUSUM com análises de séries temporais.
- Dificuldade em Interpretar Alterações Temporárias
- Descrição: o CUSUM acumula desvios ao longo do tempo, o que pode mascarar mudanças temporárias ou eventos transitórios no processo.
- Impacto: problemas momentâneos, como uma falha de equipamento temporária, podem não ser facilmente identificados.
- Exemplo: um defeito transitório causado por falha em uma máquina durante um único turno pode ser diluído no somatório cumulativo.
- Alternativa: complementar o CUSUM com gráficos tradicionais, como X-barra e R, para identificar eventos pontuais.
- Complexidade Computacional e de Configuração
- Descrição: a implementação e interpretação do Gráfico CUSUM podem ser mais complexas do que gráficos tradicionais, especialmente para operadores com formação básica em estatística.
- Impacto: a complexidade pode dificultar sua aceitação e utilização prática em ambientes industriais.
- Exemplo: em uma linha de produção com operadores não familiarizados com conceitos estatísticos, interpretar Gráfico CUSUM pode ser desafiador.
- Alternativa: fornecer formação adequada e automatizar o cálculo e a visualização dos gráficos com software especializado.
- Limitação em Processos Altamente Variáveis
- Descrição: o CUSUM é menos eficaz em processos com alta variabilidade natural, onde as flutuações podem mascarar desvios reais.
- Impacto: pode ser difícil distinguir entre variações naturais e alterações significativas no processo.
- Exemplo: monitorizar defeitos em processos artesanais, onde cada lote apresenta características únicas, pode resultar em alarmes frequentes e desnecessários.
- Alternativa: utilizar gráficos de controlo tradicionais com limites adaptativos, ajustados para a variabilidade de cada lote.
- Pouco Eficaz para Grandes Alterações
- Descrição: o CUSUM é projetado para detetar alterações pequenas e graduais; mudanças significativas são mais bem identificadas por gráficos tradicionais.
- Impacto: pode não ser a melhor escolha para processos onde grandes desvios precisam ser rapidamente identificados.
- Exemplo: uma alteração repentina na temperatura de uma máquina que resulta em defeitos imediatos seria identificada mais rapidamente por um Gráfico X-barra ou R.
- Alternativa: usar Gráficos X-barra e R para grandes alterações e CUSUM para mudanças subtis.
- Inadequação em Processos Não Estacionários
- Descrição: o CUSUM assume que o processo é estacionário, com uma média e desvio padrão consistentes ao longo do tempo.
- Impacto: em processos não estacionários, como aqueles sujeitos a sazonalidade ou mudanças programadas, o CUSUM pode produzir resultados inconsistentes.
- Exemplo: um processo de colheita agrícola onde a qualidade do produto varia ao longo das estações pode gerar desvios cumulativos irrelevantes.
- Alternativa: aplicar modelos de séries temporais ou gráficos adaptativos que ajustem os parâmetros de referência dinamicamente.
- Falta de Priorização de Causas
- Descrição: o CUSUM indica que uma mudança ocorreu, mas não fornece informações sobre a origem ou a gravidade das causas.
- Impacto: a análise e resolução de problemas podem ser demoradas, pois requerem investigação adicional.
- Exemplo: um aumento cumulativo pode ser causado por vários fatores (matérias-primas, operadores ou ambiente), mas o CUSUM não indica qual é o principal.
- Alternativa: combinar o CUSUM com ferramentas de análise, como o Diagrama de Pareto ou de Ishikawa, para identificar e priorizar causas.
- Embora o Gráfico CUSUM seja altamente eficaz para detetar mudanças pequenas e graduais, suas limitações práticas devem ser consideradas ao aplicá-lo. Para superar essas limitações:
- Sensibilidade e parâmetros: ajustar os valores de k e h para reduzir falsos alarmes.
- Complementaridade: usar gráficos tradicionais ou ferramentas de Análise como Pareto e Ishikawa.
- Automatização: implementar software para cálculo e visualização, facilitando a interpretação.
- Formação: capacitar operadores e gestores para compreender e aplicar corretamente o CUSUM.
- Com essas estratégias, o Gráfico CUSUM pode ser integrado de forma eficaz em sistemas de controlo de qualidade, contribuindo para a melhoria contínua dos processos.
Estudo de Caso
- Estudar as mudanças graduais e progressivas no desempenho de uma broca de uma máquina CNC para realizar furos de 10 mm de diâmetro com uma tolerância de ± 0.005 mm. Para o efeito foram controlados os diâmetros dos furos realizados obtendo-se os seguintes resultados apresentados em tabela:
- Construção do Gráfico
- CUSUM (Somatório Cumulativo): monitoriza os desvios acumulados no diâmetro dos furos.
- Limites de Tolerância ± 0.005 mm): representados em vermelho.
- Limites Ajustados (UCLAjustado = + 0.01 mm, LCLAjustado = − 0.01 mm):representados em roxo, que antecipam desvios acumulados antes de violar diretamente as tolerâncias.
- Este gráfico facilita a identificação de tendências e mudanças no processo antes que estas afetem a conformidade com as tolerâncias especificadas.
Resumo: Características dos Processos que Beneficiam do CUSUM |
Amostra | Leitura | Amostra | Leitura | Amostra | Leitura | Amostra | Leitura | Amostra | Leitura |
1 | 10,0025 | 7 | 10,0016 | 13 | 10,0010 | 19 | 10,0031 | 25 | 10,0037 |
1 | 9,9993 | 7 | 9,9908 | 13 | 10,0090 | 19 | 10,0014 | 25 | 10,0063 |
1 | 10,0032 | 7 | 9,9940 | 13 | 9,9881 | 19 | 9,9922 | 25 | 9,9962 |
1 | 10,0076 | 7 | 10,0016 | 13 | 10,0053 | 19 | 10,0017 | 25 | 9,9958 |
1 | 9,9988 | 7 | 10,0043 | 13 | 10,0016 | 19 | 10,0021 | 25 | 10,0050 |
1 | 9,9988 | 7 | 10,0015 | 13 | 9,9997 | 19 | 10,0141 | 25 | 10,0039 |
2 | 10,008 | 8 | 10,0001 | 14 | 10,0018 | 20 | 10,0009 | 26 | 10,0038 |
2 | 10,0039 | 8 | 9,9992 | 14 | 9,9914 | 20 | 10,0034 | 26 | 10,0042 |
2 | 9,9978 | 8 | 9,9933 | 14 | 10,0002 | 20 | 10,0017 | 26 | 9,9991 |
2 | 10,0028 | 8 | 9,9971 | 14 | 10,0031 | 20 | 9,9961 | 26 | 10,0037 |
2 | 9,9978 | 8 | 9,9984 | 14 | 10,0087 | 20 | 10,0076 | 26 | 10,0040 |
2 | 9,9978 | 8 | 10,0060 | 14 | 9,9987 | 20 | 10,0057 | 26 | 9,9989 |
3 | 10,0014 | 9 | 10,0025 | 15 | 9,9974 | 21 | 10,0060 | 27 | 10,0119 |
3 | 9,9906 | 9 | 9,9920 | 15 | 9,9989 | 21 | 9,9975 | 27 | 10,0050 |
3 | 9,9916 | 9 | 10,0024 | 15 | 10,0060 | 21 | 10,0090 | 27 | 9,9966 |
3 | 9,9974 | 9 | 9,9989 | 15 | 10,0030 | 21 | 9,9950 | 27 | 10,0059 |
3 | 9,9951 | 9 | 9,9974 | 15 | 9,9988 | 21 | 10,0049 | 27 | 9,9977 |
3 | 10,0018 | 9 | 10,0039 | 15 | 10,0040 | 21 | 10,0130 | 27 | 10,0065 |
4 | 9,9958 | 10 | 10,0061 | 16 | 10,0020 | 22 | 9,9971 | 28 | 10,0085 |
4 | 9,9932 | 10 | 10,0056 | 16 | 10,0063 | 22 | 9,9993 | 28 | 9,9986 |
4 | 10,0076 | 10 | 9,9967 | 16 | 9,9980 | 22 | 10,0026 | 28 | 10,0075 |
4 | 9,9992 | 10 | 9,9994 | 16 | 9,9999 | 22 | 9,9996 | 28 | 10,0048 |
4 | 10,0006 | 10 | 10,0026 | 16 | 9,9995 | 22 | 9,9943 | 28 | 10,0068 |
4 | 9,9932 | 10 | 10,0058 | 16 | 9,9942 | 22 | 10,0024 | 28 | 10,0122 |
5 | 9,9977 | 11 | 9,9986 | 17 | 10,0031 | 23 | 9,9969 | 29 | 10,0016 |
5 | 10,0010 | 11 | 10,0001 | 17 | 10,0029 | 23 | 10,0046 | 29 | 9,9990 |
5 | 9,9946 | 11 | 9,9955 | 17 | 10,0016 | 23 | 9,9976 | 29 | 9,9984 |
5 | 10,0023 | 11 | 9,9950 | 17 | 10,0004 | 23 | 10,0099 | 29 | 9,9987 |
5 | 9,9974 | 11 | 10,0051 | 17 | 9,9945 | 23 | 9,9983 | 29 | 10,0024 |
5 | 9,9989 | 11 | 10,0078 | 17 | 9,9995 | 23 | 10,0006 | 29 | 10,0045 |
6 | 9,9975 | 12 | 10,0007 | 18 | 10,0000 | 24 | 10,0064 | 30 | 10,0043 |
6 | 10,0098 | 12 | 10,0061 | 18 | 9,9977 | 24 | 9,9961 | 30 | 10,0070 |
6 | 10,0004 | 12 | 10,0029 | 18 | 10,0009 | 24 | 10,0034 | 30 | 10,0030 |
6 | 9,9952 | 12 | 9,9979 | 18 | 10,0037 | 24 | 10,0088 | 30 | 10,0102 |
6 | 10,0046 | 12 | 10,0029 | 18 | 10,0111 | 24 | 9,9943 | 30 | 10,0016 |
6 | 9,9944 | 12 | 10,0088 | 18 | 10,0026 | 24 | 10,0032 | 30 | 10,0165 |
Representação Gráfica
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Análise Detalhada do Gráfico CUSUM
- O Gráfico CUSUM apresenta três comportamentos distintos:
- Fase Inicial Ascendente
- Descrição: o Gráfico CUSUM apresenta um aumento nas primeiras amostras aproximando-se de UCL.
- Causas Potenciais:
- Esta aproximação pode estar relacionada com vibrações ou desalinhamento que podem afetar o desempenho no início de produção.
- Fase Intermédia Descendente
- Descrição
- O CUSUM diminui progressivamente, indicando que os valores observados estão consistentemente abaixo da média de referência (μ0 = 10.00 mm).
- Este comportamento sugere uma redução no diâmetro médio dos furos produzidos.
- Causas Potenciais:
- Condições Operacionais Inadequadas
- Deformação ou Desgaste Inicial da Broca
- Primeiro Alerta: quando o CUSUM atinge cerca de 75% do Limite Inferior Ajustado:
- Realizar uma inspeção na broca e no sistema de lubrificação.
- Este é um ponto crítico para prevenir que o processo continue a desviar-se.
- Interrupção Temporária: caso o CUSUM atinja o LCL:
- Parar o processo para uma inspeção detalhada da ferramenta e da máquina.
- Implicações:
- Sem Ação: se o processo continuar sem intervenção, há risco de produzir furos abaixo da tolerância (< 9.995 mm).
- Resultado: produtos podem ser não conformes, necessitando de retrabalho ou rejeição.
- Fase Posterior: Comportamento Ascendente
- Descrição:
- Após atingir o ponto mais baixo, o CUSUM começa a subir consistentemente e ultrapassa, em definitivo, o Limite Superior Ajustado.
- Este comportamento reflete uma tendência contínua de aumento no diâmetro médio dos furos.
- Causas Potenciais:
- Desgaste progressivo da broca
- Alteração nas condições da máquina
- Segundo Alerta: quando o CUSUM ultrapassa 75% do Limite Superior Ajustado:
- Realizar inspeção imediata para verificar o desgaste da broca.
- Considerar a substituição da ferramenta antes que os furos estejam fora das tolerâncias.
- Intervenção Crítica: quando o CUSUM ultrapassa definitivamente o UCL
- Parar o processo e substituir a broca imediatamente.
- Momento de Certificação de Furos Fora da Tolerância
- Critério para Furos Fora da Tolerância:
- Quando o CUSUM ultrapassa o (UCLAjustado= 0.01 mm):
- Indica que o somatório cumulativo dos desvios se tornou crítico.
- Certificação de Não Conformidade:
- Alta probabilidade de furos estarem fora da tolerância (> 10.005 mm).
- A partir deste momento, peças produzidas não devem ser enviadas ao cliente sem inspeção adicional ou retrabalho.
- Momento Ideal de Ação:
- A intervenção ideal teria ocorrido quando o CUSUM atingiu cerca de 75% do UCL pois o gráfico já indicava uma tendência ascendente consistente.
- Resumo dos Momentos Críticos e Ações Necessárias:
- Fase Descendente: intervir quando o CUSUM se aproxima do LCL, para evitar furos pequenos (< 9.995mm).
- Fase Ascendente: intervir antes de o CUSUM ultrapassar 75% do UCL
- Implicações de Não Agir em Tempo:
- Custos Diretos: produção de peças fora da especificação leva a retrabalho, desperdício e atrasos.
- Impacto na Qualidade: entregar peças fora das tolerâncias pode prejudicar a relação com o cliente.
- O Papel da Monitorização Automática:
- Atualizações em Tempo Real: a atualização automática do gráfico é crucial para detetar mudanças imediatamente.
- Pontos de Alerta Pré-definidos: configurar alarmes automáticos em 50% e 75% dos limites ajustados ajuda a garantir que ações sejam tomadas antes de o processo se tornar crítico.
- Conclusões
- O processo ficou fora de controlo a partir do momento em que o gráfico ultrapassou o UCLAjustado no Gráfico CUSUM.
- Uma análise detalhada de estabilidade estatística revelou os seguintes resultados:
- Média e Desvio Padrão do Processo:
- Média Alvo: 10,000 mm.
- Média Observada: 10,0013 mm (ligeiramente acima do alvo).
- Desvio Padrão: 0,0023 mm (relativamente pequeno, indicando consistência).
- Teste de Runs:
- Número de Runs Observados: 3
- Número de Runs Esperados: 13,6.
- p-valor: 2,34×10−6, muito menor que 0.005.
- O Teste de Runs indica que os desvios no CUSUM não são aleatórios. O processo é considerado “Não Estável”, possivelmente devido a um padrão sistemático ou deriva no processo de fabricação.
- A produção realizada nestas circunstâncias poderá estar fora das especificações.
- Ações Corretivas imediatas são necessárias para evitar peças fora das especificações e assegurar a estabilidade do processo. Este comportamento reforça a importância de monitorizar tendências e atuar preventivamente antes que os desvios afetem a conformidade do produto.
- O Gráfico CUSUM, quando atualizado automaticamente, é uma ferramenta poderosa para detetar mudanças progressivas no processo.
- Seguir pontos de alerta e realizar ações preventivas em cada fase evita peças fora das especificações, reduz custos e melhora a eficiência do processo.
Notas Finais
- Os Gráficos de Controlo são mais do que ferramentas estatísticas; são aliados indispensáveis para garantir a excelência operacional, reduzir desperdícios e aumentar a competitividade das empresas no mercado global. A seleção adequada do tipo de gráfico a utilizar – seja o Gráfico CUSUM, X-barra R ou outros – é um passo crucial para adaptar o controlo do processo às necessidades específicas de cada situação.
- Ao compreender as vantagens e limitações de cada ferramenta, os profissionais têm a capacidade de tomar decisões fundamentadas, assegurando não apenas o cumprimento das especificações técnicas, mas também a melhoria contínua dos processos. O estudo aprofundado do Gráfico CUSUM, neste contexto, ilustra como mudanças graduais podem ser detetadas precocemente, evitando custos elevados e garantindo produtos de qualidade superior.
- Este trabalho é um convite a explorar e dominar os Gráficos de Controlo, promovendo uma abordagem estratégica na sua utilização. A escolha certa, no momento certo, transforma os dados em valor, otimizando processos e garantindo o sucesso sustentado da organização.